A crise apertou. O regime espirrou, constipando-se desde a queda preço do barril do petróleo. Ficou a nu a incompetência e má-gestão de uma política económica desgarrada, assente em paliativos ideológicos.
Por William Tonet
1. No tempo das vacas gordas (alta do crude), tudo era feito ao acaso, sem planificação e ao sabor do saco azul, proveniente da receita do petróleo, que enriquecia dirigentes corruptos, com dinheiro do erário público, iludindo a maioria com obras descartáveis de betão.
Era a visão partidocrata de desenvolvimento dos gestores de pastilha. Não tinham um plano B, para uma eventual calamidade, natural ou financeira, como a que se conhece.
A criação do Fundo Soberano do Petróleo foi um verdadeiro embuste, pois mais de 5 mil milhões de dólares, da República de Angola (é assim tratada na Constituição), foram monarquicamente, colocados nas mãos de José Filomeno dos Santos, primeiro filho varão do Presidente da República, que quando se esperava pudesse ajudar a diminuir as mais de 500 crianças mortas/dia, nos hospitais de Luanda, por falta de medicamentos básicos, vieram a terreiro dizer estar o Fundo sem fundo para cumprimento de um dos seus objecto; a nobre empreitada de salvar vidas de crianças.
Há sindicância? Não! O Tribunal de Contas é impotente, quando em causa estão os de colarinho branquíssimo, como príncipes e barões, por estar o poder absolutamente concentrado num homem só…
Este quadro mostrou a fragilidade de uma gestão danosa e dolosa, cuja responsabilidade criminal deve ser imputada a quem fez do erário público uma fonte de diversificação de dinheiro do Estado, aos ricos do regime, que roubam dinheiro aos pobres.
Com base nesta fórmula, temos que a ladainha da diversificação nunca visou, nem visará projectar a economia, mas apenas a contínua delapidação da riqueza de Angola, cada vez mais concentrada em cerca de 0,5 % de dirigentes partidocratas.
2. O Titular do Poder Executivo, José Eduardo dos Santos, é desde 2010, um factor de bloqueio, à verdadeira diversificação da economia, ao promulgar o Decreto Presidencial n.º 135/10 de 13 de Junho, ao impedir os pequenos e médios agricultores, o regente agrícola ou o engenheiro agrónomo de produzirem mais e melhor escoando os produtos do campo, com a aquisição de uma carrinha de ocasião.
Um decreto deslocado, besta e sem justificativa, para um país sem indústria automobilística, quando os grandes produtores (Alemanha, França, Espanha, Estados Unidos da América, Japão, Reino Unido, etc.) não impedem a entrada de carros de 1950, desde que estejam a andar e com as inspecções em dia.
Com isso, parou o sonho do enfermeiro, do professor, do comerciante, do pastor e do técnico de laboratório, regressarem ao campo, mantiveram-se mais uma vez em Luanda e noutras grandes cidades. Por outro lado, com o fim deste segmento de mercado, milhares de angolanos ficaram no desemprego, por conta e risco do decreto presidencial.
E demonstrando estar contra os pobres, quanto à diversificação da economia, escancarou as portas aos ricos (sócios estrangeiros da nomenclatura), às representações e stands de venda de automóveis novos.
Quem da classe intermédia os consegue comprar? Ninguém. Assim sendo, a produção agrícola sem transportes de ocasião, um sector bancário eficiente, capaz de garantir, meios de reposição, como sementes, adubos e combustível é uma besta ilusão, por ser uma actividade lenta e pouco lucrativa, nos 10 anos iniciais.
3. Como acreditar na diversificação da economia, quando José Eduardo dos Santos bloqueou a concessão de divisas nos bancos comerciais, aumentou os direitos aduaneiros, limitando, impedindo e colocando em risco a actividade liberal de milhares de empreendedoras e empreendedores que, semanalmente, cruzavam os céus internacionais em busca de pequenos negócios, geradores de emprego local?
A forma de gestão sectária, divisionista, parcial e partidária, que apenas beneficia os angolanos do MPLA é um dos maiores erros e empecilhos para o sucesso da diversificação, pois a concentração da riqueza nas mãos dos mesmos, não augura êxito. É como se os melhores jogadores de um país estarem numa só equipa, naturalmente, o campeonato torna-se fraco, prejudicando, por via disso, a própria selecção nacional. Finalmente, se Eduardo dos Santos não for capaz de falar com toda tribo empreendedora do país, assinando um pacto com os até aqui discriminados, de nada valerá continuar a acreditar num nado-morto.
Dificilmente quem provoca uma crise económico-financeira tem receitas para reverter, na plenitude, a situação. Logo, na impossibilidade de em Agosto haver uma renovação, na liderança do MPLA, restará aos eleitores descontentes e espoliados, nos seus sonhos, diversificarem o voto, rumo a revogação das leis anti-populares, pelo novo poder.